
Consagrado como o vencedor do prêmio máxmo do 65º Festival de Cannes, em cerimônia realizada no início da noite de domingo (27/05), três anos depois de ganhar a Palma de Ouro com A fita branca, o diretor austríaco Michael Haneke repetiu o feito com “Amour”, um filme sóbrio e comovente sobre o acaso da vida. Disse ele: “Durante muito tempo fui acusado de ser um especialista em violência. Dessa vez mudei de assunto”, brincou o realizador de 81 anos, autor de filmes como "A professora de Piano" (2001) e Violência Gratuita (2007).
Após ter valorizado o papel dos seus atores Haneke salientou, na conferência de imprensa dos homegeados, que este é um filme baseado numa experiência pessoal e que estabeleceu um compromisso com a sua mulher no sentido de não envelhecerem de forma dolorosa.
Os atores franceses Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, interpretam em "Amour" um casal cheio de amor e cumplicidades, que quase não precisa de palavras para se entender. Mas um dia toda essa vida desaba, quando ela fica doente. O filme fala sobre o drama de um octogenário que assume a responsabilidade de cuidar da esposa depois que ela sofre uma série de derrames que a deixam inválida, transcorre inteiramente em um apartamento parisiense, é um drama sobre o envelhecimento e o derradeiro sopro de amor de um casal de idosos. Mas Haneke não o faz com crueldade, mas com uma sensibilidade impressionante, com um grande humanismo e uma emoção contida. "Quando se chega a uma certa idade, o sofrimento inevitavelmente te comove. É tudo o que queria mostrar, nada mais", disse Haneke em uma coletiva de imprensa em Cannes, após a apresentação deste filme austero e doloroso.

Uma das surpresas da premiação foi o prêmio de direção para o mexicano Carlos Reygadas, autor de Post Tenebras Lux do versículo bíblico "Depois das Trevas vem a luz", um dos títulos mais vaiados pelos jornalistas. O filme fala sobre um casal que se muda da cidade grande para o interior e lá enfrenta os fantasmas das diferenças entre classes sociais mexicanas. “Agradeço aos jornalistas que odiaram o meu filme e também a aqueles que o amaram. As duas opiniões são muito importantes para o longa”, disse Reygadas. 'Não vou mudar meu estilo', O diretor disse ainda não achar que é "um cineasta louco que utiliza a linguagem abstrata para confundir e distanciar o espectador". Segundo ele, sua intenção, como a de todos os diretores, é "chegar a um público que me siga com a mente e o coração mas, sobretudo, quero me expressar livremente sem o desejo de mudar meu estilo para obter êxito comercial". "Eu não acredito que os prêmios levem a lugar nenhum, mas agradeço porque me confirmam que existem pessoas que apreciam meus filmes", declarou o mexicano. Ele ainda afirmou que teve tempo de assistir produções de outros diretores durante o evento. "Vi e amei, principalmente, 'On the Road', do brasileiro Walter Salles que fez um filme excelente, repleto de muito amor e humanidade e que, no entanto, não ganhou nenhum prêmio".
O Brasil foi muito elogiado, mas não ganhou nenhum prêmio, tendo se apresentado também em mostras paralelas ao festival com filmes e documentários.
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